Dias de Vinho e Rosas
Days
of Wine and Roses, é o nome dum filme
que Blake
Edwards realizou em 1962. A crítica o
assinalou na época como; “ um grande filme, um filme, difícil de se ver. É
duro, amargo, denso, pesado. É uma angustiante viagem ao fundo dum poço …e o
espectador é obrigado a entrar nele, pela maestria da direção, pelo estilo
realista, cru, e pelas interpretações extraordinárias de Jack Lemmon (um dos
meus actores favoritos) e Lee Remick.”
Como
na vida real, não se chega ao fundo do poço … de maneira rápida, abrupta. Bem
ao contrário. As primeiras doses dão uma sensação de leveza e de euforia….
Os
créditos iniciais do filme mostravam rosas ao fundo, enquanto vamos vendo os
nomes dos atores, da equipa, ao som duma canção criada especialmente para o
filme por Henry Mancini…e os versos de Johnny Mercer, nos lembram que ; “The
days of wine and roses laugh and run away like a child at play / Through a
meadow land toward a closing door”.(“Os dias de vinho e rosas…/Rir e fugir como uma criança a brincar /Através de uma paisagem/Dum
prado/prado em direção /a uma porta a fechar "
Dias
de vinho e rosas. Parece o paraíso. É o nosso amargo/doce, aquilo que nos
lembra a composição binaria da vida… antes de empezar a escrever esta pequena
mensagem o nome que me veio a cabeça foi este Um dia de vinho e Rosas…
chegamos ao final de uma etapa, de um pequeno ciclo construído com amizade,
talento,criatividade, luz imaginação e… aquilo que é superior; o Teatro… sim
foi o teatro que nos convocou nestas sessões, foi o teatro que fez possível este
fenómeno.foi a força do teatro que abriu o pano e acendeu as luzes, ligou os
motores da emoção… despertou o sorriso leve, o riso adulto ou a louca
gargalhada… meus amigos estamos aqui porque gostamos de teatro, porque amamos o
teatro, porque todos nós pedimos ao teatro apenas aquilo que o teatro é ou
aquilo que nós desejamos que o teatro seja… apenas isso TEATRO…
A
vida pode ser resumida num quotidiano de Vinho e Rosas, numa valsa de vinho e
rosas… coisas boas , coisas más… doce , agridoce… amargo…
Queria recordar aqui as palavras
do dramaturgo Luíz Francisco Rebello aquando a primeira edição do FITEI no ano
de 1978 na cidade do Porto “ nascido em Novembro de 1978, transformou a cidade
motivando a gente da cidade e das suas periferias para sair à rua e participar
indiferente à falta de conforto ou ao inóspito das salas e espaços que nessa
altura albergavam as iniciativas teatrais na cidade, na mensagem dirigido na
primeira edição do Festival, oficialmente aberto a 10 de Novembro de 1978, Luís
Francisco Rebello (autor e historiador do Teatro português) antecipava o significado
histórico desta iniciativa, apresentando-a como “uma das mais importantes manifestações
culturais de ressonância internacional, do Portugal democrático saído do 25 de
Abril” (apud Porto 1997: 215). “Do modelo da antiguidade, que conjugava de forma
irrepetível a equação entre a experiencia teatral e a presença cívica, o
festival de teatro dos nossos tempos, definitivamente inaugurado em Avignon por
Jean Vilar em 1947, recupera a territorialidade e a ambição aglutinadora, condições
indispensáveis para a experiencia de festa que encontra em “festival” a sua
forma adjetiva “(cf. Oliveira 2003: 99)
Memória, reconhecimento e desafio Paulo Eduardo Carvalho /Mensagem à 28.ª edição do FITEI - 31 de
Maio de 2005, TNSJ
É a isto que o Grupo
organizador nos convocou durante todas estas noites, a uma festa, a uma pequena
espécie de orgia e/ou alegria de ver como os nossos problemas as nossas
ambições as nossas esperanças são representadas por outros, pelos actores. Mas
nunca abandonando o sentido de representação e o sentido de comunicação.
Agradeço aos organizadores por
estas dez noites de magia, fantasia e ilusão… Margarida Carpinteiro lembrava-nos na sua breve mensagem na semana
passada que a palavra amador encontra na raiz do amor a sua génese e claro que
esta lembrança soa ou ressoa como um sino na nossa memória esquecida; tudo num
ser humano deve ser feito ou comandado pelo amor, o amor aos outros e a nossa
arte, ao serviço do público da história da humanidade e ao desenvolvimento
humano em harmonia paz e fraternidade.
Na noite de encerramento do Festival Cale-se o Grupo organizador e
os elementos do Júri querem lembrar esta figura exemplar do moderno teatro
português, exemplar pelo seu dinamismo, criatividade, humor e generosidade.
Particularmente lembro o ator nos meus primeiros anos de espectador em
Portugal, as suas diferentes “rabulas” cada uma, uma personagem diferente, como
heterónimos pessoanianos atitude criadora, que de um modo exemplar soube
transmitir a um dos seus mais fieis e dedicados colaboradores o Herman José que
dele apreenderia o mimetismo e a transformação de criar em cada figura um novo
ser, um novo carácter. Pelo muito que o Nicolau Breyner nos deixou, só podemos
estar-lhe agradecidos, nas gargalhadas, nas lagrimas, nos sentimentos
camuflados de melodramatismo e na não verdade da ilusão teatral que muitos
afirmam ser sempre uma mentira: Como disse Herberto Helder (e para terminar) Ninguém ama tão publicamente como o actor./Como o secreto
actor.
Em estado de graça./Em compacto estado de pureza./O actor ama em acção de estrela./Acção de mímica./O actor é um tenebroso recolhimento /de onde brota a pantomina./O actor vê aparecer a manhã sobre a cama./Vê a cobra entre as pernas./O actor vê fulminantemente como é puro./Ninguém ama o teatro essencial como o actor./Como a essência do amor do actor./O teatro geral./O actor em estado geral de graça./ (poema acto de Herberto Hélder)
Em estado de graça./Em compacto estado de pureza./O actor ama em acção de estrela./Acção de mímica./O actor é um tenebroso recolhimento /de onde brota a pantomina./O actor vê aparecer a manhã sobre a cama./Vê a cobra entre as pernas./O actor vê fulminantemente como é puro./Ninguém ama o teatro essencial como o actor./Como a essência do amor do actor./O teatro geral./O actor em estado geral de graça./ (poema acto de Herberto Hélder)
Roberto Merino M